Irã diz que ataque dos EUA ou da Arábia Saudita resultará em “guerra total”
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, advertiu nesta quinta-feira, 19, que qualquer agressão a seu país em resposta ao ataque com drones e mísseis a instalações petrolíferas sauditas levará a uma “guerra total”. A declaração aumenta ainda mais as tensões no Golfo Pérsico.
As declarações do chanceler são a advertência mais direta de Teerã ao rival regional e aos americanos após o colapso de seu acordo nuclear com potências internacionais. Desde que o presidente americano, Donald Trump, decidiu sair de forma unilateral do pacto, o número de ataque com drones atribuídos ao Irã no Estreito de Ormuz aumentou.
As declarações de Zarif também parecem ser uma resposta ao secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que durante uma viagem à Arábia Saudita na quarta-feira se referiu aos ataques de sábado como um “ato de guerra”.
Questionado pela emissora americana CNN sobre as consequências de um ataque de Washington ou Riad, Zarif declarou: “Guerra total”. “Não teremos dúvidas quanto a defender nosso território”, afirmou ele.
EUA denunciam ataques ‘inéditos’
Pompeo qualificou os ataques de “inéditos” em um tuíte publicado na véspera, após uma reunião em Jeddah com o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, com quem abordou as ações com drones e mísseis de cruzeiro à maior instalação de petróleo da Arábia Saudita.
Met with #Saudi Crown Prince Mohammed bin Salman today to discuss the unprecedented attacks against Saudi Arabia’s oil infrastructure. The U.S. stands with #SaudiArabia and supports its right to defend itself. The Iranian regime’s threatening behavior will not be tolerated. — Secretary Pompeo (@SecPompeo) September 18, 2019
Os rebeldes houthis, apoiados por Irã, assumiram a autoria dos ataques, mas Washington defende que foram os iranianos os responsáveis.
“Os EUA estão com a Arábia Saudita e apoiam seu direito de se defender”, escreveu Pompeu em sua conta no Twitter. “Não será tolerado comportamento ameaçador do regime iraniano.” O secretário não deu mais detalhes sobre o assunto.
Resposta militar
Trump, que não especificou se ordenaria uma resposta militar, disse na quarta-feira que trabalhará para aumentar as sanções financeiras contra Teerã pelo ataque, mas não forneceu mais informações. O Irã já lida com sanções americanas sobre sua principal indústria petrolífera.
Mais tarde, Pompeo viajou aos Emirados Árabes, onde se reúne com o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, o xeque Mohammed bin Zayed Al-Nahyan.
Emirados Árabes, aliado próximo a Riad e que participa com o reino saudita na guerra contra os houthis, anunciou também nesta quinta que se juntou à coalização liderada pelos EUA para proteger as vias navegáveis no Oriente Médio após os ataques.
O país entrou para a aliança com o objetivo de “garantir a segurança energética global e o fluxo contínuo de suprimentos de energia à economia global”, disse Salem al-Zaabi, do Ministério das Relações Exteriores dos Emirados Árabes.
Vistos para a delegação iraniana
Mohammad Javad Zarif disse ainda nesta quinta que Pompeo estava tentando atrasar a emissão dos vistos para a delegação iraniana viajar a Nova York para a Assembleia Geral da ONU.
.@SecPompeo tries to dodge US obligation to issue visas for UN delegates by resorting to self-arrogated designations.
A history lesson, perhaps, for my novice counterpart:
Nelson Mandela was on U.S. Terrorist Watch List until 2008; 15 years after receiving Nobel Peace Prize. — Javad Zarif (@JZarif) September 19, 2019
“O secretário Pompeo tenta se esquivar da obrigação dos EUA de emitir vistos para a delegação americana ao recorrer a designações auto-arrogadas”, escreveu o ministro em sua conta no Twitter.
Ele não esclareceu se o atraso pode estar ligado à lista dos EUA de países considerados “inimigos”. “Uma lição de História, talvez para o meu mais novo colega: Nelson Mandela esteve na lista americana de possíveis terroristas até 2008, 15 anos após receber o prêmio Nobel da Paz”, escreveu Zarif. / AP
Fonte: Estadão