Artistas criticam realização de grandes shows no MAM

A polêmica envolvendo a realização de grandes eventos no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) ganhou mais um capítulo nesta sexta-feira (9) e continua a render críticas no meio cultural. Desta vez, um show do sertanejo Luan Santana, que estava previsto para acontecer neste sábado (11), foi proibido pela prefeitura, após pedido do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tombou o Solar do Unhão, onde fica o MAM. O evento já tinha sido autorizado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), que administra o MAM, ligado ao governo do estado.

Para artistas plásticos e arquitetos, os problemas vão além dos impactos na estrutura física do sítio histórico – como quantidade de pessoas, potência do som ou vibração provocada pela música.

“Eu tenho que me posicionar primeiro como artista e como cidadão. Além da questão técnica, tem a questão conceitual. A gente não quer um museu exclusivista que seja só das artes visuais. Um museu do século XXI tem que incorporar a cidade, as manifestações urbanas, mas sem perder o senso crítico”, pontua Zivé Giudice, que dirigiu o MAM três vezes.

“Aqui não se trata de ser contra Luan Santana, Psirico ou o que quer que seja. Existem lugares adequados para estas manifestações, a cidade se oferece inteira para eles, e ainda se apropriam do museu? Estes espetáculos não dialogam com a história do museu”, completa Zivé.

Para o arquiteto Neilton Dórea, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), não se trata de fazer do museu uma edificação estática.

“É claro que você pode ter shows, passar filmes, colocar palcos, mas é preciso que os eventos sejam adequados”, afirma. Para ele, a proibição do show de amanhã foi “um meio de a sociedade dar uma pressão”.

Quem também não aprova a transformação no MAM num espaço de shows é o artista plástico Juarez Paraíso, um dos grandes nomes da arte moderna da Bahia, que mora defronte ao Solar. “Eu sou absolutamente contra, esse tipo de espetáculo só pode prejudicar, é apenas cerveja, álcool e som alto”, critica, lembrando dos impactos da vibração no local.

“O MAM já está navegando a esmo, sem um comandante”, afirma o artista, para quem a administração de museus deveria caber à Fundação Cultural do Estado, não ao Ipac.

“Essas festas são apenas para fazer caixa, não têm nada de artístico. E não é nada contra os artistas”, pontua.

 

 

Patrimônio
Ao pedir que a prefeitura não licenciasse o evento Luan Sunset, neste sábado (11), o Iphan argumentou que o evento causaria danos ao bem tombado.

A assessoria de Luan disse que o show estava mantido, mas, no final da noite desta sexta-feira (9), o empresário Léo Goes, diretor da OnLine Entretenimento, produtora do show, afirmou ao Alô Alô Correio que não iria promover o evento amanhã. “Não tenho como montar o que Luan ia fazer. Ele tem um carinho grande por Salvador e este show era especial”, disse.

No final da tarde desta sexta, equipamentos para a montagem do palco que estavam no pátio do MAM começaram a ser removidos. Até às 20h, ainda era possível comprar os ingressos online por até R$ 300. Mas, pouco depois, a página na web foi retirada do ar. Segundo Léo Goes, a restituição dos valores dos ingressos adquiridos será no ponto de venda onde a compra foi realizada, de 10 até 20 de janeiro.

Terreno
De acordo com o Iphan, a dimensão do palco apresentada pela produtora equivale, em proporção, à Capela de Nossa Senhora da Conceição. Essa dimensão reforçaria a impossibilidade de atender o público estimado de 2.050 pessoas no terreno de 1 mil m².

A autarquia justifica que o terreno não comportaria o impacto da carga dinâmica desse público pulando ao mesmo tempo, ou ainda o efeito sonoro de altos decibéis, que poderiam provocar danos nas estruturas históricas como alvenarias, assoalhos, bens móveis e integrados, acervos, entre outros.

Além disso, diz o Iphan, a On Line Entretenimento não especificou as dimensões e quantificações de itens de montagem provisória como sanitários químicos, geradores, bares e food trucks. A apresentação de tais elementos também é necessária para a concessão da autorização.

A On Line disse, em nota, que foi surpreendida. “A produtora esclarece que realizou todos os procedimentos solicitados, mas foi pega de surpresa ao ser comunicada que o evento foi indeferido pelo Iphan. Mesmo sem ser notificada pelo Iphan e não conhecer os motivos irá acatar a decisão”, diz a nota.

De acordo com o artista plástico Zivé Giudice, foi feito um estudo em 1988 para avaliar qual era a capacidade de carga no pátio do Solar do Unhão – onde vêm acontecendo eventos. “Em 1988, quando assumi a direção, eu solicitei ao Ipac uma avaliação da capacidade de carga daquele pátio. Eles fizeram a avaliação e sugeriram que não passasse de 1.500 a 1.800 pessoas”, lembra. Zivé pediu uma nova avaliação quando voltou à direção, em 2015, se sucesso.

Em nota, o Ipac disse que recebeu o ofício do Iphan informando sobre a não autorização para a festa Luan Sunset e que vai acatar a decisão. “Cabe ao Iphan avaliar o impacto das intervenções nos bens por ele acautelado para toda e qualquer intervenção provisória ou não. Sendo assim, o IPAC acatará a ordem do órgão em não autorizar a realização do evento neste sábado, no MAM”, diz nota.

 

Fonte: Correio

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