Manchas de óleo fazem preço do peixe cair 25% em Salvador
A presença do óleo de petróleo cru nas praias de Salvador fez com que o preço dos pescados reduzisse cerca de 25% e o consumo dos clientes caísse. O prejuízo já é possível ser notado em colônias de pescadores e peixarias que dependem das vendas de seus pescados para se manter. O Vermelho Cioba, peixe mais procurado pelos consumidores, custava R$ 35 o quilo e está sendo vendido pelos pescadores por R$ 25.
A baixa procura pelos pescados se dá por medo de contaminação com o óleo. Na manhã desta segunda-feira (4), o CORREIO percorreu alguns pontos da cidade para comparar os preços dos pescados de antes e depois do desastre ambiental com óleo.
A dificuldade dos pescadores em conseguir alavancar suas vendas foi narrada por Joel Antônio Gouveia, 79, que tira do mar seu sustento há mais de 35 anos. Segundo ele, os colegas estão com dificuldades de vender seus pescados mesmo com a redução do valor.
“Essa situação é um desastre imensurável, uma dificuldade enorme. Os clientes estão receosos com tudo isso, ninguém consegue vender nada. O preço baixou muito, tanto para vender para as peixarias como as encomendas de restaurantes e hotéis. Tem pescadores que estão com estoques com mais de uma semana sem conseguir vender nada e alguns deles estão com o freezer cheio há quase 20 dias, antes nem durava quatro, vendia tudo rápido”, explicou o pescador, que garantiu já estar aposentado, mas continua pescando para complementar a renda da família.
Queda nas vendas
Consumidor direto dos pescados de Seu Joel, o peixeiro Jair Assunção, 56, possui um box próximo a colônia de pescadores do Rio Vermelho há 35 anos. Ele revelou que antes de toda essa situação começar, vender entre 100 e 150 quilos de peixes por semana era algo comum. Hoje em dia, para conseguir vender os mesmos 100 quilos, Jair está tendo que reduzir o valor do quilo de quase toda sua mercadoria.
“Depois desse problema com o óleo as pessoas não querem mais comprar nossos peixes. Os restaurantes não estão mais fazendo pedidos de entrega. Estamos no prejuízo. Nós compramos diretamente do pescador, que deseja receber a vista, e tínhamos que vender a prazo para os estabelecimentos. Estou com estoque desde sábado, não consegui vender nada no domingo, que era comum vender até 40 quilos, e não vendi nada até agora. No momento estou apenas comprando gelo para conservar. É um prejuízo imenso. Estou pedindo a Deus para que essa situação se resolva, senão vamos passar mais dificuldades”, lamentou o comerciante.
Confira quais são os peixes mais procurados pelos consumidores e a alteração dos seus valores de venda, segundo os pescadores.
Vermelho Cioba. – Custava R$ 35 o kg, agora está R$ 25.
Vermelho de fundo – Custava R$ 34 o kg agora está R$ 25.
Vermelho Rabo Aberto/Guaiúba – Custava R$ 14 o kg agora está R$ 9.
Olho de boi – Custava R$ 35 o kg agora está R$ 25.
Cavala – Custava R$ 35 o kg agora está R$ 25.
Arraia – Custava R$ 15 o kg agora está R$ 12.
Badejo – Custava R$ 35 o kg agora está R$ 30.
Sororoca – Custava R$ 35 o kg agora está R$ 25.
Atum – Custava R$ 20 o kg agora está R$ 13.
Mercado do Peixe
No Mercado do Peixe, os pescados permanecem o mesmo valor de venda, independente do problema com o derramamento de óleo nas praias do Nordeste. De acordo com o administrador Rubem Bispo, 95% dos pescados vendidos nos boxes são de origem do sul e sudeste do país. Por este motivo, os valores nos preços não foram alterados.
“Os clientes devem pesquisar mais, procurar saber de onde vem os pescados que estão consumindo. Aqui os comerciantes só vendem mercadorias que vem de fora da Bahia, os consumidores precisam saber disso. Não temos riscos de ter peixes e crustáceos contaminados por esse óleo”, afirmou.
Mas segundo o comerciante Gilvan Borges, 31, dono de um dos boxes no Mercado do Peixe há 12 anos, o problema já chegou ao local, que já começou a sentir o impacto nas vendas de peixes por conta do derramamento de óleo.
“Mesmo a gente explicando que a mercadoria daqui vem de fora, alguns clientes ainda nos perguntam se tem alguma contaminação com óleo. Isso atrapalha um pouco as vendas. Antes eu comprava R$ 10 mil de peixe por semana, agora estou me precavendo e comprando só 4 ou 5 mil”, contou o comerciante.
Além de reduzir a quantidade de mercadoria comprada, outra preocupação de Gilvan é referente a manutenção de seus funcionários. Ele mantém três funcionários nos boxes, mas afirmou que precisou reduzir a carga horaria deles, que agora estão se revezando durante a semana.
“Precisei reduzir. Eles vinham a semana toda. Pedi para que viessem uns dois dias na semana apenas. Estou precisando diminuir os gastos até que essa situação melhore”, completou.
No box de Gilvan, era possível encontrar peixes e crustáceos com os seguintes preços:
Corvina – R$ 12 o quilo.
Pitiinga – R$ 8 o quilo.
Camarão (por tamanho) – R$ 27, R$ 35 e R$ 50 o quilo.
Mexilhão – R$ 30 o quilo.
Sururu – R$ 15 o quilo.
Pescado Amarelo – R$ 27 o quilo.
Fonte: Correio24Horas