‘Marias na Construção’: programa capacita mulheres para a Construção Civil
“Maria, Maria, é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta. Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”. Foi com os versos da música de Milton Nascimento que foi lançado nesta segunda-feira (15) o programa ‘Marias na Construção’, que capacitará mulheres para trabalhar no setor da construção civil em Salvador.
A cerimônia contou com as presenças do prefeito ACM Neto; do secretário da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) e vice-prefeito, Bruno Reis; além das secretárias nacional e municipal de Políticas para Mulheres, Cristiane Brito e Rogéria Santos, respectivamente.
O projeto piloto foi lançado no Campo da Pronaica, no bairro de Cajazeiras X, e já está com inscrições abertas, através do site www.mariasnaconstrucao.salvador.ba.gov.br). Para participar é necessário ser mulher, ter mais de 18 anos, e ter concluído pelo menos o 5º ano do Ensino Fundamental (antiga 4ª série).
As primeiras turmas do projeto terão um total de 100 alunas de três bairros da região: Subúrbio, Pernambués e Cajazeiras. As aulas, que estão previstas para acontecer de julho a setembro, serão ministradas na unidade móvel do Senai. No primeiro dia do curso será necessário entregar cópias de RG, CPF, comprovante de renda e escolaridade. O cronograma de aulas ainda será divulgado.
A iniciativa faz parte do eixo capacitação e empregabilidade da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) e conta com a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Bahia), que ofertará a qualificação profissional.
A música “Maria Maria”, que deu o tom da cerimônia de abertura, foi cantada por Amanda Lima, que é técnica em edificações formada pelo Senai e que hoje faz parte da equipe da SPMJ. Ao lado de Amanda, estava Maria do Amparo Xavier, a primeira mestre de obras da Bahia, que empresta o seu nome ao projeto.
Emocionada, ela comemorou o surgimento do projeto. “Esse projeto vai dar visibilidade, e oportunidade as mulheres que estão ai desempregadas. Na maioria das vezes, as obras têm vaga, mas alegam que não existem mulheres preparadas, com condição de assumir a vaga.
Ela vai estar pronta para trabalhar nas empresas ou ser empreendedora”, acredita ela, que também é secretária de políticas para as mulheres do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estrada, Pavimentação, Obras de Terraplanagem e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav-BA). Ela estima que, atualmente, existem 2.500 mulheres atuando no setor.
Prefeito ACM Neto lança programa ao lado da secretária Rogéria Santos da SPMJ e de Maria do Amparo Xavier a primeira mestre de obras da Bahia (Fotos: Max Haack/Secom)
Oportunidade
Ao falar da iniciativa, o prefeito ACM Neto destacou que o ‘Marias na Construção’ deve se tornar uma política pública permanente em Salvador. “A questão do desemprego é muito séria no Brasil, mas há perspectiva de melhoria para este segundo semestre. Por isso, é fundamental que essa mão de obra esteja qualificada. E mais, é necessário olhar para a inclusão do público feminino no mercado de trabalho até para reparar uma dívida histórica que existe entre homens e mulheres, como na área da construção civil. A gente quer a qualificação e preparação da mulher para o mercado de trabalho”, pontua o gestor.
Titular da pasta responsável pelo projeto, a secretária Rogéria Santos explicou que o programa busca ir além da simples capacitação das futuras alunas. Ele pretende também prevenir e ajudar a combater a violência doméstica contra a mulher.
“Vamos formar tecnicamente mulheres capazes de encarar o mercado de trabalho. Esse é o principal sentido, além de combater a violência doméstica e familiar através da independência financeira. Quando não se dá para a mulher a autonomia financeira, o ciclo da violência é muito complicado de ser rompido, porque muitas vezes é a dependência que a insere nesse ciclo. O objetivo é esse, traze para a mulher a independência, seja no mercado formal, informal, ou como uma empreendedora de sucesso no ramo da construção civil”, explica a secretária.
Na visão do presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Carlos Henrique Passos, o espaço das mulheres tem crescido no setor. “A participação de mulheres, de certa forma, vem crescendo na construção civil, que não é mais aquela coisa vista como algo só de força física. É também de industrialização, do detalhe”, declarou.
Alunas
Uma das interessadas em participar do programa lançado é a autônoma Solange Santos, 50 anos. Já com experiência na área, ela começou a trabalhar com construção civil em 2009. Depois de sete anos de trabalho, está há três desempregada e espera encontrar no curso uma chance.
“Não tem muita vaga para nós, então, se a gente aprender mais, talvez seja mais fácil conseguir um emprego. Eu quero aprender tudo que eu puder, me tornar uma pedreira completa”, disse Solange que quer participar da turma de pedreira polivalente, a primeira que será oferecida pelo projeto.
A aula é para todas. Quem não tem experiência como Solange também terá a oportunidade de exercer a função. “Às vezes a nossa área não tem espaço. Essa é uma oportunidade de acrescentar no currículo algo mais. E a gente tem ousadia, vontade de aprender, então dá certo”, declarou a manicure Renata Tavares, 40.
Quem também demonstrou empolgação foi a dona de casa Lilian Evangelista, 30, que chegou cedo com as amigas para se cadastrar. “Em casa sou eu que faço tudo mesmo. Agora vou aprender”.
Nacional
A secretária nacional de política para as mulheres, Cristiane Britto, também esteve presente no evento para conhecer o projeto ‘Marias da Construção’. Segundo a titular da secretaria vinculada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), toda iniciativa que ajuda a romper o ciclo de violência contra a mulher é de extrema importância.
Soteropolitana, ela está à frente da pasta desde maio e destacou que o Brasil é o 5º país do mundo em número de feminicídios. Na Bahia, segundo ela, apenas em 2019, ocorreram 198 tentativas do crime, 56 delas em Salvador.
“O programa é uma iniciativa louvável, que visa inserir a mulher no mercado de trabalho. E todo projeto que visa essa inserção visa também combater a violência contra a mulher. Estamos visitando projetos como esse justamente para conhecer boas práticas que possam nos ajudar com inovações, para aperfeiçoar os projetos que já temos e criar novos. Já estou em articulação, colhendo dados, para expandir esse projeto em nível nacional”, disse.
Fonte: Correio 24 horas