A Bolívia depois da saída de Evo Morales

Com o ex-presidente no exílio, uma transição pacífica até a realização de novas eleições dependerá de seus seguidores, que controlam mais de dois terços do Parlamento.

Duas reuniões definirão hoje o futuro da Bolívia depois da renúncia do ex-presidente Evo Morales no domingo, sob recomendação de políticos, militares e da polícia boliviana, que retiraram seu apoio ao fim das três semanas de protestos motivados pelas denúncias de fraude nas eleições de 20 de outubro. Nesta madrugada, ele voou para o México, onde receberá asilo.

A primeira reunião será a sessão extraordinária da Assembleia Legislativa Plurinacional, com deputados e senadores. A ordem do dia prevê analisar a renúncia de Evo de do vice-presidente, Álvaro García Linera. Além deles, renunciaram os presidentes do Senado, Adriana Salvatierra, e da Câmara, Rubén Medinacelli, ambos do partido de Evo, o Movimento ao Socialismo (Mas).

Como a Constituição boliviana não prevê nenhum outro posto na linha sucessória em caso de renúncia coletiva, o mais razoável é deixar a decisão a cargo do Parlamento, que deverá convocar novas eleições num período de 90 dias. Interinamente, é provável que a presidência seja assumida na sessão de amanhã pela segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez Chávez, da oposicionista Unidade Democrata.

 

 

A segunda reunião, também convocada para hoje à tarde, se dará em Washington, na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA). Foi o resultado preliminar da auditoria da OEA nas eleições bolivianas, divulgado domingo pela manhã, que precipitou a renúncia de Evo no final da tarde. No início, ele aceitou realizar novas eleições, já que os auditores julgaram impossível garantir a lisura do pleito, tamanhas as evidências de fraude. Mas a concessão tardia se revelou insuficiente ante a demanda pela renúncia e o quadro caótico do país.

Caso a Assembleia boliviana determine as regras de transição até as novas eleições, a OEA deverá referendá-las e orientar a postura da comunidade internacional. A resistência óbvia vem dos tradicionais aliados de Evo, Cuba e Venezuela, talvez México. Ninguém, contudo, pode se opor a novas eleições.

Internamente o principal empecilho é o Mas, acéfalo depois do exílio de Evo, mas ainda dono de mais de dois terços das cadeiras parlamentares. Antes da renúncia, os protestos nas ruas eram comandados pela oposição mais radical, sobretudo na província de Santa Cruz. Depois dela, atos de vandalismo por todo o país têm sido associados a lideranças ou a movimentos sociais ligados ao Mas.

Incêndios, saques e violência foram registrados em La Paz, El Alto, Cochabamba e outras cidades. Vândalos queimaram veículos da polícia. Grupos de mineiros e plantadores de coca foram mobilizados. Em Santa Cruz, o líder direitista Luís Fernando Camacho, principal incitador dos protestos contra Evo, se viu obrigado e pedir respeito pela whipala, a bandeira indígena, queimada por seus acólitos.

Añez teve de ser retirada às pressas do Congresso, para onde se encaminhava uma multidão. O ex-presidente e candidato oposicionista Carlos Mesa denunciou que uma turba se dirigia a sua casa e pediu proteção. Exército e polícia passaram a agir em conjunto desde a noite de ontem para tentar recobrar a ordem no país. Em La Paz e El Alto, os moradores ergueram barricadas numa tentativa de deter o vandalismo.

O resgate da ordem democrática depende sobretudo do Mas. Com 25 dos 36 senadores e 88 dos 130 deputados, o partido de Evo pode garantir legitimidade à transição para novas eleições, aceitando que o país fique sob o comando provisório de Añez até lá. A alternativa é o agravamento do caos, com risco de secessão e Guerra Civil.

 

Fonte: G1

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