Morte de médico que tentou avisar sobre vírus causa protestos na China

Li Wenliang morreu após contrair o novo vírus enquanto atendia pacientes na cidade de Wuhan, epicentro do surto da doença.

Em dezembro do ano passado, ele enviou uma mensagem aos colegas médicos alertando sobre um vírus com sintomas semelhantes ao da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês) — outro coronavírus mortal.

Mas foi orientado pela polícia a “parar de fazer comentários falsos” e foi investigado por “espalhar boatos”.A princípio, a notícia da morte dele foi recebida com pesar na rede social chinesa Weibo, mas o sentimento de luto logo se transformou em revolta.

Já havia acusações contra o governo de subestimar a gravidade do vírus — e de, inicialmente, tentar mantê-lo em segredo.

 

 

Qual foi a reação pública?

A rede social chinesa foi inundada por mensagens de revolta — é difícil lembrar um acontecimento nos últimos anos que tenha despertado tanta dor, raiva e desconfiança em relação ao governo.

As duas principais hashtags usadas diziam: “o governo de Wuhan deve desculpas ao Dr. Li Wenliang” e “queremos liberdade de expressão”.

Ambas as hashtags foram rapidamente censuradas. Quando a BBC fez uma busca na Weibo nesta sexta-feira, milhares de comentários tinham sido apagados. Restavam poucos apenas.”Esta não é a morte de um denunciante. É a morte de um herói”, escreveu um usuário na Weibo.

Há comentários que não citam o médico diretamente, mas abordam a crescente revolta e desconfiança em relação ao governo.

“Não se esqueça de como você se sente agora. Não se esqueça dessa raiva. Não podemos deixar que isso aconteça novamente”, afirmou um usuário.

“A verdade vai ser sempre tratada como um boato. Quanto tempo você vai mentir? O que mais você tem a esconder?”, acrescentou uma pessoa.

“Se você está com raiva do que está vendo, se manifeste”, disse outro. “Jovens desta geração, o poder da mudança está com vocês.”

 

 

Como a morte foi anunciada?

Houve uma confusão sobre quando exatamente Wenliang morreu. Ele foi declarado morto inicialmente às 21h30 (horário local) de quinta-feira por meios de comunicação estatais, como Global Times, People’s Daily e outros.

Horas depois, o Global Times desmentiu essa informação, dizendo que Wenliang recebeu um tratamento conhecido como oxigenação por membrana extracorporal (ECMO, na sigla em inglês), que manteve o coração do paciente pulsando.

Jornalistas e médicos locais acreditam que as autoridades do governo intervieram — e os meios de comunicação oficiais teriam sido instruídos a mudar a versão para dizer que o médico ainda estava sendo tratado.

Mas, no início de sexta-feira, eles informaram que os médicos não conseguiram salvar Wenliang, e que ele morreu às 02h58 de sexta-feira.

 

Fonte: Terra

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